quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Pelo movimento slowscience

Será que ninguém acha que há algo errado quando a quantidade se torna mais importante que a qualidade? Você caro leitor, já percebeu que ultimamente a grande maioria dos livros lançados por pesquisadores das Universidades não passam de coletâneas de artigos? Isto porque escrever livro demanda tempo e passar um tempo enorme fazendo uma pesquisa de fundo para escrever um livro nos dias de hoje... atrapalha a carreira!! Por quê? Porque atualmente o mais importante é a quantidade de artigos publicados em periódicos indexados, não o que verdadeiramente se pesquisou e escreveu. Como já disse até Miguel Nicolelis "Albert Einstein não seria pesquisador 1A do CNPq, porque ele não preenche todos os pré-requisitos – número de orientandos de mestrado, de doutorado…". Outro Exemplo? Provavelmente Marx sequer passaria num concurso para professor, afinal, ficou mais de 20 anos escrevendo um livro (O Capital) e sequer conseguiu terminar? Jamais conseguiria um financiamento do CNPq...

Enfim. Se estás cansado disto não és o único. Já corre o mundo o movimento slow science. Um dos manifestos você pode ler abaixo. E se concordar, assine o manifesto você também. O link para assinatura é: http://slowscience.fr/?page_id=8
O link para a página em português do movimento é: http://slowscience.fr/?page_id=68

Pesquisadores, professores, nós precisamos urgentemente desacelerar! Vamos nos libertar da síndrome da Rainha Vermelha! Pare de querer seguir cada vez mais rápido. Pare de querer seguir cada vez mais e mais rápido, o que resulta apenas em estagnação ou até mesmo retrocesso. Na mesma toada do Slow Food, Slow City e Slow Travel, nós criamos o movimento Slow Science.
Olhar, pensar, ler, escrever, ensinar. Tudo isso leva tempo e nós temos cada vez menos tempo para isso, se é que já não perdemos completamente esse tempo. Dentro e ao redor de nossas instituições, a pressão social promove a cultura do imediatismo e do urgente. Com produções em tempo real, os projetos vão e vêm em um compasso cada vez mais rápido. E nossas vidas profissionais não são as únicas vítimas dessa pressão: um colega que não está sobrecarregado e estressado é visto como excêntrico, apático ou preguiçoso – tudo em detrimento da ciência. A Fast Science, assim como a Fast Food, prima pela quantidade acima da qualidade.
Nós multiplicamos nosso projetos de pesquisa para angariar fundos para nossos laboratórios, que muitas vezes estão em condições deploráveis. Resultado: assim que acabamos de desenvolver um programa e, por mérito ou sorte, conseguimos financiamento, precisamos imediatamente pensar na próxima proposta, em vez de nos dedicarmos ao primeiro projeto.
Como os avaliadores e outros especialistas também estão sempre com pressa, nossos currículos são corriqueiramente avaliados somente pela sua extensão: quantas publicações, quantas apresentações, quantos projetos? Esse fenômeno cria uma obsessão pela quantidade na produção científica. Resultado: é impossível ler tudo, mesmo dentro de uma especialidade. Assim, muitos artigos nunca são citados e talvez nunca sejam lidos. Nesse contexto, é cada vez mais difícil localizar as publicações e apresentações que realmente importam – aquelas em que um colega despendeu meses, às vezes até anos, aperfeiçoando – entre outras milhares que são duplicadas, recortadas, recicladas, ou até mais ou menos “emprestadas”.
Claro que nossa formação deve ser “inovadora”, obviamente de “alta performance”, “estruturada” e adaptada ao “desenvolvimento de novas competências”. É difícil identificar as mudanças apropriadas em um mundo em movimento constante. Como resultado dessa corrida frenética rumo à “adaptação”, a questão do conhecimento fundamental a ser passado adiante – conhecimento que, por definição, não se altera – não está mais na agenda dos cientistas. O que importa é estar em sintonia com os tempos e, especialmente, mudar constantemente para manter a máquina em funcionamento.
Se aceitamos responsabilidades administrativas (conselhos universitários, departamentais ou administração de laboratórios), como todos somos obrigados a fazer durante nossa carreira acadêmica, somos automaticamente obrigados a preencher um número sem fim de formulários, muitas vezes dando a mesma informação e as mesmas estatísticas pela enésima vez. Ainda mais sério, o resultado da burocracia generalizada e da “encontrite” – a última, com o intuito de manter a aparência de colegialidade enquanto, em geral, acaba por esvaziar sua essência – é que ninguém tem tempo para nada: é preciso avaliar a submissão que foi recebida hoje para que seja implementada amanhã! E enquanto fazemos dessa situação uma caricatura, essa realidade se aproxima.
Essa degeneração da nossa atividade não é inevitável. Resistir à Fast Science é possível. Nós temos a chance de construir a Slow Science, dando prioridade a valores e princípios:
nas universidades, a pesquisa é o motor da educação, apesar dos ataques repetidos daqueles que sonham em eliminar a pesquisa das universidades francesas. É imperativo preservar ao menos 50% de nosso tempo à atividade de pesquisa, que determina a qualidade de tudo o mais. Em termos concretos, isso implica a rejeição de qualquer atividade que venha a confrontar-se com esses 50%.
pesquisar e publicar enfatizando a qualidade exige que todos nos concentremos nessas atividades por um período suficientemente longo. Para esse fim, nós necessitamos de períodos regulares sem responsabilidades administrativas ou de ensino (o direito de  se dedicar exclusivamente à pesquisa um semestre a cada 4 anos, por exemplo).
não devemos focar na quantidade no currículo. Universidades estrangeiras já apontam para este caminho ao limitar a cinco o número de publicações que podem ser mencionadas em submissões para doutorado ou uma vaga na universidade (“Reward quality not quantity”, Trimble, S.W., Nature, 467 : 789, 2010). Esse princípio pressupõe que devemos decidir, em colegiado e de forma transparente, como avaliar nossos cientistas pela qualidade de sua produção científica, não pela quantidade de publicações e comunicações.
nutrida pela pesquisa, a missão por excelência dos cientistas de uma universidade é passar o conhecimento adquirido adiante. Os membros dos institutos devem ter tempo para ensinar, através do aprimoramento de suas condições de trabalho. Quanto tempo é gasto em solucionar problemas práticos, muitas vezes triviais, e que estão além das atribuições de seu trabalho? O tempo gasto em tarefas administrativas e na “criação de modelos” deve ser reduzido. Os tão famosos “modelos” deveriam realizar apenas a tarefa de definir o currículo específico para uma disciplina em uma universidade. Não é necessário mudar esse quadro a cada quatro ou cinco anos, como é o caso atualmente.
em nossas tarefas administrativas, é preciso reivindicar tempo para estudar as questões que estão diante de nós. Para o interesse de todos, devemos analisar o conteúdo criticamente. Rejeite então a pequena democracia e colegialidade criadas ao votar em tópicos que, no melhor caso, só serão analisados superficialmente. Não há nenhuma razão para aceitar a ideologia da urgência, repetida ad nauseam pelo ministro e seus “administradores”.
De forma mais geral, nós não devemos esquecer que há vida fora da universidade. Nós precisamos de tempo para nossas famílias, nossos amigos, nosso lazer… para o prazer de não fazer absolutamente nada!
Se você concorda com esses princípios, assine a petição pela fundação do movimento Slow Science. Acima de tudo, permita-se um tempo antes de decidir assinar a petição ou não!
Joël Candau, October 29, 2010 (published July 17, 2011)
Tradução do inglês e do francês para o português: Janaisa Martins Viscardi (UNICAMP, Brasil)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Preciso ter sempre um livro na mão

Pequeno trecho da reportagem da Carta Capital sobre Sócrates:

Após a primeira internação, em agosto, Sócrates admitiu ter problemas com o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Recusou, porém, a pecha de dependente químico. “Só tenho uma dependência, a intelectual. Preciso ter sempre um livro na mão.”

É preciso dizer mais alguma coisa? Sim: precisamos de mais viciados em livros. Nós ainda somos muito poucos.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Práticas de Morar

Palestra e debate com Pedro Fiori Arantes: Projeto habitacional e assistência técnica para autogestão.
No Auditório da Faculdade de Arquitetura da UFRGS.
Rua Sarmento Leite nº 320
Entrada Franca
SEXTA dia 9 de dezembro às 19:00 hs
Promoção: CIDADE - Centro de Assessoria e Estudos Urbanos
Apoio: LABES - Laboratório do Espaço Social - UFRGS
             Cidade Projeto - Laboratório de Pesquisa - PROPUR
             Misereor

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Atravessar a rua continua uma aventura

Uma experiência bem simples do Sakamoto: atravessar a rua (ou pelo menos tentar). Resultados? Previsíveis: mais motoristas não param e ainda por cima xingam o pedestre do que qualquer ato minimamente civilizado (que tal simplesmente parar na faixa? É pedir muito?). É o mesmo pessoal (o que não respeita pedestre) que depois reclama de impostos, de corrupção e se informa (ou se deforma?) lendo Veja e Caras.

Ok, agora siga o link e vá ao blog do Sakamoto ler o post.

Atravessar a rua em São Paulo continua uma aventura

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

David Harvey e o Enigma do Capital



Acaba de sair no Brasil um dos últimos livros de David Harvey, O enigma do capital. O press release oficial da editora boitempo encontra-se mais abaixo. Se você compreende bem o Inglês e não se importa em ler na tela do computador (ou em tablets, caso já tenha um), pode obter a versão em PDF aqui.




“O Partido de Wall Street teve seu tempo e falhou miseravelmente. Como construir uma alternativa a partir de sua ruína é tanto uma oportunidade imperdível quanto uma obrigação que nenhum de nós pode ou deveria jamais procurar evitar.” É com essa máxima que o geógrafo acadêmico mais citado do mundo, David Harvey, inicia seu novo livro, O enigma do capital: e as crises do capitalismo, o primeiro de sua autoria a ser lançado pela Boitempo Editorial.
Harvey parte da análise da crise do subprimeimobiliário de 2008 para demonstrar que, apesar de seu alcance e tamanho, ela não difere das crises passadas. Para tanto, o autor estuda as condições necessárias para a acumulação do capital e utiliza rigoroso arsenal teórico ao expor o papel fundamental que as crises têm na reprodução do capitalismo e os riscos sistêmicos de longo prazo que o capital representa para a vida no planeta.
Riscos sistêmicos estes, inerentes ao capitalismo de livre mercado, que os economistas não foram capazes de compreender quando a crise estourou e até hoje parecem não ter ideia do que são ou do que fazer com eles. “Quando os políticos e economistas especializados parecem tão inconscientes e indiferentes à propensão do capitalismo a crises, quando tão alegremente ignoram os sinais de alerta a seu redor e chamam os anos de volatilidade e turbulência iniciados nos anos 1990 de ‘a grande moderação’, então o cidadão comum pode ser perdoado por ter tão pouca compreensão em relação ao que o atinge quando eclode uma crise e tão pouca confiança nas explicações dos especialistas que lhe são oferecidas”, afirma o autor.
Nem sempre, porém, houve essa cegueira generalizada entre os economistas. Segundo Harvey, nos primeiros anos do capitalismo, economistas políticos de todos os matizes se esforçaram para entender os fluxos do capital, mas nos últimos tempos se afastaram do exercício de compreensão crítica para construir modelos matemáticos sofisticados, investigar planilhas e analisar dados sem fim. Qualquer concepção do caráter sistêmico desses fluxos foi perdida sob um monte de papéis, relatórios e previsões.
Com uma capacidade analítica singular, Harvey dirige-se de forma didática e acessível ao leitor pouco familiarizado com o jargão econômico ou marxista, sem ser simplista. Por meio da construção detalhada de cada conceito, torna a leitura gradativamente mais complexa na medida em que uma maior articulação é necessária para explicar a dinâmica do fluxo do capital, seus caminhos sinuosos e sua estranha lógica de comportamento, tarefa fundamental para explicar as condições em que vivemos atualmente.
O enigma do capital: e as crises do capitalismo desnuda as razões para o fracasso da sociedade de “livre mercado”, jogando por terra o argumento de que a crise financeira mundial, que começou em 2008 e está longe de acabar, não tenha precedentes. “Tento restaurar algum entendimento sobre o que o fluxo do capital representa. Se conseguirmos alcançar uma compreensão melhor das perturbações e da destruição a que agora estamos todos expostos, poderemos começar a saber o que fazer”, conclui o autor.

Ficha técnica
Título: O enigma do capital
Subtítulo: e as crises do capitalismo
Título original: The enigma of capital: and the crises of capitalism
Autor: David Harvey
Tradução: João Alexandre Peschanski
Páginas: 240
ISBN: 978-85-7559-184-0
Preço: R$ 39,00
Editora: Boitempo