terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Direito à Preguiça

A meia dúzia de leitores que freqüenta este blog já percebeu que ultimamente ele está "devagar quase parando".  Não, não significa que ele está encerrando sua curta existência. Significa apenas que o autor destas linhas está em férias, gozando merecidas (bem, pelo menos eu considero merecidas) horas de ócio, de brincadeiras com a filha, idas ao cinema, etc. Em outras palavras, exercendo o Direito à preguiça.
E, se por acaso nunca leste o clássico livrinho de Paul Lafargue (O Direito à Preguiça), podes ler direto neste site ou mesmo baixar uma versão em PDF aqui.
Enquanto isto... aproveite a vida!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Debord sobre a cidade

Tese 174 da Sociedade do espetáculo:


"O momento presente já é o da autodestruição do meio urbano. O transbordamento das cidades para um meio rural cheio de 'massa informes de resíduos urbanos' (Lewis Mumford) é diretamente regido pelos imperativos do consumo. A ditadura do automóvel, produto-piloto da primeira fase da abundância mercantil, se enraizou no terreno com a dominação da auto-estrada, que desloca os centros antigos e comanda uma dispersão sempre mais pronunciada. Ao mesmo tempo, os momentos de reorganização inacabada do tecido urbano se polarizam passageiramente em torno de 'fábricas de distribuição' que são os hipermercados construídos em áreas afastadas, sustentados por um estacionamento; e mesmo esses templos do consumo precipitado também são empurrados pelo movimento centrífugo, que os repele à medida que os tornam centros secundários sobrecarregados, porque provocaram uma recomposição parcial da aglomeração. Mas a organização técnica do consumo está no primeiro plano da dissolução geral que levou a cidade a se consumir a si mesma."


Guy Debord: A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: contraponto, 1997, pág. 115. (o texto foi publicado originalmente em francês em 1967)


Textos de Guy Debord e outros autores como Robert Kurz podem ser encontrados aqui. Há neste blog, inclusive, a famosa entrevista em que Henri Lefebvre fala sobre Debord e a Internacional Situacionista.

domingo, 1 de janeiro de 2012

A violência da moeda


Depois das orgias de gastos familiares nas festas de fim de ano e, do ponto de vista mundial, com perspectivas econômicas sombrias já que boa parte dos países em crise parecem continuar apostando no receituário neoliberal (o mesmo que os jogou na crise!), nada melhor que lembrar o começo do livro de Aglietta e Orléan, A violência da moeda.
"Os fenômenos monetários não deixam ninguém indiferente. eles intrigam e inquietam todo mundo. Por um lado, a moeda é cercada de tal aura de mistério que sua manipulação e seu estudo parecem, para o leigo, atividades esotéricas, domínios fora do alcance de sua compreensão. Por outro lado, a moeda é a realidade social que penetra mais intimamente na vida privada de cada um, que dilacera as amizades mais sólidas, que desintegra as resoluções morais mais aguerridas. Diante da face enigmática da moeda, os economistas e os políticos não estão em posição mais vantajosa que o homem comum

Os ideólogos de nossa sociedades capitalistas ocidentais tomaram partido sobre as oscilações da vida econômica. Não podendo explicá-las, fazem delas realidades familiares, como a alternância da chuva e do bom tempo. Alguns chegam até a legitimá-las, conferindo-lhes virtudes morais, quase dietéticas! Assim a recessão é um saneamento após os excessos de prosperidade, uma chamada à ordem e à razão para todos os que tiveram a imprudência de querer viver acima de seus recursos, isto é, para os trabalhadores e para os pobres. O desemprego significa tirar as gordurinhas das empresas que imprudentemente engordaram rápido demais; uma dieta severa que lhes restitui a produtividade, condição de sua saúde segundo a mais pura tradição filosófica do liberalismo ocidental.

(...)

Nossa época é vítima do retorno dos demônios monetários. mas as escolas de pensamento, herdadas do que chamamos sem rir 'a ciência econômica', são incapazes de elucidá-los."
Michel Aglietta e André Orléan. A Violência da Moeda. São Paulo: brasiliense, 1990, pág. 25-26. (original em francês publicado em 1982)

Que venha 2012!