domingo, 10 de junho de 2012

A natureza é uma categoria social


"No princípio, tudo eram coisas, enquanto hoje tudo tende a ser objeto, já que as próprias coisas, dádivas da natureza, quando utilizadas pelos homens a partir de um conjunto de intenções sociais, passam, também, a ser objetos. Assim a natureza se transforma em um verdadeiro sistema de objetos e não mais coisas e, ironicamente, é o próprio movimento ecológico que completa o processo de desnaturalização da natureza, dando a esta última um valor." (Milton Santos: A natureza do espaço. São Paulo: HUCITEC, 1996, pág. 53)
Com a Rio+20, muita tinta e bites têm sido gastos para discutir a "natureza". Portanto, serei breve:

a) "os homens estão destruindo a natureza". Que homens, cara-palida? Numa organização social como a capitalista em que existe gigantesca desigualdade social e portanto desigualdade na capacidade de consumo, colocar a culpa "nos homens" é escamotear que alguns poluem muito mais que outros. Eu não aceito que digam que eu sou tão culpado quanto a General Motors ou a Vale. Outra: Programas de despoluição de rios, lagos ou outros cursos d'água bancados pelo Estado são necessários? São. Mas significam que enquanto os lucros ficaram com as empresas que poluíram, os prejuízos são socializados, pois somos todos nós que pagamos a despoluição.

b) O que verdadeiramente está em jogo nesta discussão toda não é a natureza. É a sociedade. O que deve ser discutido não é a natureza que queremos, mas a sociedade que queremos. Foi uma determinada formação social - que sempre entendeu a natureza separada do homem e unicamente como recurso - que nos colocou no ponto em que estamos. Portanto, o que deveria ser óbvio mas parece que não é deve ser dito claramente: se queremos mudar, devemos mudar a sociedade. Só assim será possível cambiar a maneira como nos relacionamos com o ambiente.

c) O capitalismo só mudará o que for possível valorar, o que for possível extrair lucro. É só pensar na reciclagem: o que na verdade é reciclado é só o que dá lucro. Por isso somos campeões de reciclagem de latinhas de alumínio enquanto quase todo o resto de produtos recicláveis vai para os lixões. Sem falar que reciclamos bastante latinhas à custa de superexploração da mão-de-obra dos miseráveis. Em outras palavras: sob pretexto de "inclusão social", mantemos os pobres na miséria pois só pagando pouco para os catadores é possível a reciclagem dar lucro. É realmente isto que queremos? É realmente esta "inclusão" que desejamos? É assim que "salvamos" a natureza?

A natureza é uma categoria social. Lutemos, pois, para mudar a sociedade.

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