quarta-feira, 13 de junho de 2012

Pérolas do Cotidiano



Certas coisas ficam tão comuns no dia-a-dia que sequer nos damos conta de como elas se aproximam da estupidez. Alguém já reparou que hoje em dia é quase impossível tentar fazer um lanche em uma cidade como Porto Alegre sem que o "salgado" seja aquecido no microondas?

O resultado, todos vão lembrar, é que fazer um lanche fora de casa significa, quase certamente, comer algo com a consistência de borracha, completamente mole e ainda por cima fervendo por dentro! Não importa o que seja: um risoles, esfiha, pão de queijo, pastéis variados de forno, empada. Pense no que você quiser. A aparência no balcão refrigerado sempre é bonita, mas o microondas transforma tudo em algo com gosto uniforme, indistinguível e artificial. Aliás, parece hambúrguer do McDonald's. Uma massa de comida em que não sabemos onde termina o gosto do pão e começa o gosto da carne. Ok, voltando (já que o objetivo não é falar de McDonald's): o paradoxo é que isto não é só uma característica de lugares e lancherias "populares", digamos assim. Tente comer um simples pão-de-queijo com café num Shopping, por exemplo. A praga do microondas está em todo lugar! Até mesmo naqueles lugares metidos à besta que cobram fortunas por um petisco qualquer.

Isto não tem nada a ver com "a pressa da cidade moderna". Tem a ver é com preguiça dos restaurantes/lanchonetes e acomodação dos consumidores. Henri Lefebvre já dizia que vivemos numa sociedade burocrática de consumo dirigido. Ele, evidentemente, não pensou no que estou chamando "praga de microondas". Mas comer fora virou algo puramente burocrático: como não temos tempo, engolimos qualquer coisa simplesmente para a fome passar. Por isto aceitamos como "normal" a comida molengo-emborrachada do microondas. É burocrático. E é um consumo dirigido.

Vejam bem: começamos com uma simples crítica do uso do microondas, mas é revelador do nosso cotidiano e da necessidade de superação deste. (o texto de Lefebvre que menciono é: A vida cotidiana no mundo moderno. São Paulo: Ática, 1991. Fica a dica de leitura)

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