quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Geografia: Teoria e Crítica; o saber posto em questão



Em 1982, há 30 anos portanto, foi editado pela Vozes um livro organizado por Ruy Moreira intitulado Geografia: Teoria e Crítica; o saber posto em questão. O volume reuniu alguns dos textos de geógrafos brasileiros produzidos no período entre 1978 e 1981, ou seja, numa conjuntura de lenta abertura política que desembocaria na campanha das "diretas já" alguns anos depois. Do ponto de vista da Geografia, foi o período imediatamente posterior ao já quase mítico Encontro da AGB em Fortaleza/1978 que marcou a ruptura e renovação da Associação dos Geógrafos e da própria Geografia brasileira.

Em primeiro lugar, é preciso entender o próprio contexto da geografia como um todo na época. Para aqueles como eu recém-chegados (Vestibular em 1982 e começo de curso de Geografia na UFRGS em 1983), havia uma falta enorme de livros com conteúdo atualizado e contemporâneo. A maioria dos livros editados no Basil eram traduções de manuais de uma Geografia, digamos, "tradicional". Era época de Jean Brunhes, Jacqueline Beaujeu-Garnier, Pierre George, etc. Assim, estávamos ávidos por outros tipos de livros. Foi o período em que circulava a edição "pirata" impressa pela União Paulista de Estudantes de Geografia do livro de Yves Lacoste A Geografia serve antes de mais nada para fazer a guerra e que dois livros serviam quase como uma guerrilha informal (e complementar ao Lacoste) dos estudantes para a renovação da Geografia: O que é Geografia também de Ruy Moreira editado na coleção primeiros passos da brasiliense e Geografia: pequena história crítica de Antônio Carlos Robert Moraes publicado pela HUCITEC.

Portanto, Geografia: teoria e crítica também se tornou um clássico, e isto fica facilmente visível se olharmos os autores/textos publicados. O livro tem 18 capítulos, divididos em duas partes: A Crítica Teórica e Fazendo a releitura da sociedade. Alguns exemplos: Milton Santos: "Geografia, Marxismo e subdesenvolvimento"; Ariovaldo Umbelino de Oliveira: "O 'econômico' na obra Geografia Econômica de Pierre George: elementos para uma discussão"; Ruy Moreira: "A Geografia serve para desvendar máscaras sociais"; Carlos Walter Porto-Gonçalves: "A Geografia está em crise: viva a Geografia!"; Roberto Lobato Correa: "Repensando a teoria das localidades centrais"; Armando Corrêa da Silva: "O Espaço como Ser: uma auto-avaliação crítica".

Foi uma época em que se publicava porque efetivamente se queria uma difusão do conhecimento e das inquietação produzidas; hoje se publica (muitas vezes, mas é verdade que nem sempre) porque é uma obrigação acadêmica e para poder colocar no Lattes… Como se vê, objetivos diferentes. 


Da mesma forma, não se lia textos à época simplesmente para cumprir obrigações com colegas e Orientadores e poder cumprir o ritual acadêmico de infindáveis citações. Se lia (ou pelo menos vários de nós líamos) porque aprender e trocar idéias era o objetivo.

Enfim, fica aqui uma lembrança ao livro, seus autores e especialmente a Ruy Moreira, cuja paixão e interesse por uma Geografia efetivamente crítica não esmoreceu com o passar dos anos.

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