sábado, 29 de outubro de 2011

A música do fim de semana é...

Estou ficando velho: tenho uma gravação em fita-cassete (!) dos dois LPs (!) lançados na década de 80 por uma gravadora cubana com o registro da apresentação do Dizzy em Havana. Participações especialíssimas de Arturo Sandoval (no trompete) e Gonzalo Rubalcaba (piano). Posteriormente, ambos saíram de Cuba e foram morar nos EUA. Não, eles não são "traidores da revolução". Pense bem: se você fosse um espetacular músico de Jazz, onde você gostaria de estar/trabalhar/morar?


A música é um clássico: Night in Tunisia. Enjoy it.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A pergunta do fim-de-semana é...


Caminhando pelas ruas do bairro Menino Deus (em Porto Alegre - para o caso de aparecer algum leitor de outra localidade) neste domingo um pouco antes das 14:00 hs, um fato me chamou a atenção. O ônibus do Sport Club Internacional, levando os atletas até o Beira-Rio, passou por mim. Não, não foi o fato de o Inter ter um ônibus que me chamou atenção, ou mesmo ele estar usando uma rota que leva ao estádio. Afinal, isto seria de se esperar. O que realmente chamou a atenção é que o ônibus foi precedido pelos batedores de moto da Polícia Militar, que interditavam o trânsito para a livre passagem do dito cujo.

Então a pergunta é: alguém conseguiria dar uma explicação realmente convincente do porque jogadores de futebol terem privilégios no trânsito? A pergunta atrelada a esta é: por que parece que todo mundo acha isto perfeitamente normal? Afinal, todos (os colorados, pelo menos) que estavam na rua neste momento acenavam e "comemoravam" a passagem dos jogadores, ainda que o vidro fumê tornasse impossível enxergar quem se encontrava dentro do ônibus.

Vejam bem: este post não é para falar mal de futebol, dizer que é o "ópio do povo" ou qualquer coisa semelhante. Eu mesmo acompanho futebol.

A verdadeira questão é a do uso de espaços públicos. A rua é um espaço público, ainda que o uso intensivo de automóveis signifique uma privatização disfarçada deste espaço e que o carro a transforme cada vez mais em um simples lugar de passagem, não de convívio como deveria ser. Pois bem, não bastasse isso, ainda parece haver pessoas que tem privilégios no uso deste espaço que - repito - é público! Quando eu estou atrasado para ir ao trabalho, não aparece nenhum policial para fazer o ônibus que eu tomo até o Campus do Vale andar mais livre e rapidamente. Aliás, seria um completo absurdo que isso acontecesse.

Então... porque os jogadores de futebol tem este privilégio no uso do espaço público?

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Mike Davis sobre o movimento Occupy Wall Street

No blog da editora boitempo, texto de Mike Davis sobre os acontecimentos recentes em Nova York. Um pequeno trecho:


"Acredito que estamos vivenciando o renascimento das qualidades que definiram de modo tão marcante as pessoas comuns da geração de meus pais (migrantes e grevistas da Crise de 1929): uma compaixão generosa e espontânea, uma solidariedade baseada em uma ética perigosamente igualitária: Pare e dê carona a uma família. Jamais fure uma greve trabalhista, mesmo se sua família não puder pagar o aluguel. Compartilhe seu último cigarro com um estranho. Roube leite quando não houver para seus filhos e dê metade para as crianças do vizinho (isso foi o que minha própria mãe fez repetidas vezes em 1936). Ouça atentamente aos sagazes e serenos que perderam tudo, menos a dignidade. Cultive a generosidade do “nós”. O que quero dizer, suponho, é que me sinto extremamente impactado por aqueles que se juntaram para defender as ocupações apesar de diferenças significativas de idade, classe social e raça. E, da mesma maneira, adoro as crianças corajosas que estão prontas para encarar o próximo inverno e passar frio nas ruas, bem como seus irmãos e irmãs desabrigados."       Continue lendo aqui

Antes de você pular para o blog da boitempo, uma observação: Mike Davis escreve algo que gostaria de ressaltar: apesar da importância da internet, redes sociais, etc, um movimento só se torna movimento real quando ocupa a rua, organiza espaços de forma a confrontar a ordem espacial (e social) estabelecida.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Direito à cidade?


"O sistema está na moda, tanto no pensamento quanto nas terminologias e na linguagem. Ora, todo sistema tende a aprisionar a reflexão, a fechar os horizontes. (...) O urbanismo, quase tanto quanto o sistema, está na moda. As questões e reflexões urbanísticas saem dos círculos dos técnicos, dos especialistas, dos intelectuais que pretendem estar na vanguarda dos fatos. Passam para o domínio público através de artigos de jornais e de livros de alcance e ambições diferentes. Ao mesmo tempo, o urbanismo torna-se ideologia e prática. E, no entanto, as questões relativas à Cidade e à realidade urbana não são plenamente conhecidas e reconhecidas; ainda não assumiram politicamente a importância e o significado que tem no pensamento (na ideologia) e na prática." Henri Lefebvre: "Advertência" em O Direito à Cidade, livro publicado originalmente na França no início de 1968.

As advertências de Lefebvre, mais de quarenta anos depois, continuam atuais. Discutir a cidade e seu planejamento continuam na moda e na ordem do dia: somos bombardeados diariamente com notícias e análises de obras de mobilidade urbana para a copa do mundo, de programas habitacionais, de reformulação e renovação do Cais do Porto (em Porto Alegre; mas renovações urbanas - "gentrificação" na pedante linguagem acadêmica - estão acontecendo em várias cidades brasileiras). Tudo isto aparece desconectado, como se fossem fatos isolados e de puro domínio da técnica. A cidade não é uma discussão técnica, é política na sua maior acepção, até mesmo porque deve ser lembrado que o termo grego polis é a origem tanto da palavra cidade quanto da palavra política. Morar na Cidade é estar no locus (lugar) por excelência da política. Um dos grandes problemas é que isto aparece ideologicamente invertido para os habitantes: todos aprendem que política é coisa de político e não enxergam a cidade como ela é: "a cidade tem uma história: ela é a obra de uma história, isto é, de pessoas e de grupos bem determinados que realizam essa obra nas condições históricas." (Lefebvre, no capítulo sobre a especificidade da cidade em O Direito à Cidade)

Nós vivemos na cidade; viver não é a mesma coisa que comprar, mas a fragmentação do espaço urbano cotidiano raras vezes é percebida e o predomínio de relações mercantis no dia a dia das pessoas parece reforçar o parcelamento da cidade em pedaços: quantas pessoas realmente conhecem a cidade em que moram? A grande maioria usa basicamente dois pontos do território: o lugar de moradia e o lugar de trabalho. Entre eles, apenas uma rota de deslocamento, sempre a mesma, dia após dia. E, o pior: ainda por cima, com engarrafamentos. Saber pensar o espaço, para nele se organizar, para nele combater, já pedia o geógrafo Yves Lacoste na década de 70 do século passado. Precisamos retomar a cidade por inteiro, efetivamente nos apropriarmos dela.

Romper esta alienação de todos nós em relação ao espaço que habitamos é a tarefa para tirar a cidade das mãos de burocratas e "especialistas", assumir politicamente a cidade. Ao fazer isso, conseguiremos discutir e compreender a cidade como um todo: mobilidade não é da alçada só de engenheiros de tráfego, está ligada a questões de uso do espaço, dos lugares de moradia - portanto: vamos discutir habitação junto com transporte! As ligações não param por aí: renovações urbanas como a do Cais Mauá também estão ligadas à questão de mobilidade e à pergunta básica: quem vai usar aquele espaço? Que impacto terá sobre o uso de outros espaços (próximos e distantes)? Poderia continuar conectando questões indefinidamente, mas o que deve deve ficar claro é que o verdadeiro direito à cidade não é simplesmente estender a infra-estrutura e a dita cidade formal a todos, o verdadeiro direito à cidade é recuperá-la como valor de uso, não valor de troca.

sábado, 15 de outubro de 2011

A música também é revolucionária

Em um dia cheio de manifestações ao redor do mundo, nada melhor do que fazer isso com uma trilha sonora revolucionária, de um músico, a seu jeito, revolucionário. Pare. Escute. Mergulhe na música. Com vocês, o clássico dos clássicos: Miles Davis


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Higienismo em SP, mas não só em São Paulo



Com o título de "Higienismo em SP, parte II", o site da revista Carta Capital traz uma reportagem sobre um abaixo-assinado feito por moradores do bairro Pinheiros, em São Paulo, contra a mudança e instalação de um albergue para moradores de rua na "área nobre" do bairro.

A reportagem fala por si só; gostaria apenas de lembrar que isto, infelizmente, não é "privilégio" dos paulistas: aqui mesmo em Porto Alegre já aconteceu (e continua acontecendo) coisa semelhante, vide abaixo-assinado que correu o Menino Deus na época em que a Prefeitura urbanizou a Vila Lupicínio Rodrigues. Para quem não sabe, o abaixo assinado dizia que ninguém era contra os pobres terem melhor moradia, mas... seria melhor para todos que eles não ficassem ali (afinal, estavam desvalorizando imóveis num típico bairro classe média). E como não associar esta notícia com as alegadas dificuldades do atual Governo Municipal para conseguir área no Cristal para reassentar os atingidos pelas obras de duplicação da Av. Tronco?


Higienismo em SP, capítulo dois
Redação Carta Capital
14 de outubro de 2011 às 15:53h
Depois do episódio do metrô em Higienópolis, no qual moradores do bairro paulistano lutaram contra a construção de uma estação de metrô na região com o intuito de afastar “gente diferenciada” (entenda-se “pobres”), um novo capítulo higienista começa a ser escrito em São Paulo. “É de provocar inveja a qualquer higienista social do Terceiro Reich a demonstração de tal insensibilidade”. A declaração é do promotor público Maurício Antonio Ribeiro Lopes, dada ao jornal O Estado de S. Paulo desta sexta-feira (14), sobre um abaixo-assinado entregue esta semana no Ministério Público por comerciantes e moradores do bairro de Pinheiros, de classe média. Os moradores pedem a manutenção do endereço do albergue Cor da Prefeitura, que abriga pessoas em situação de rua, onde está atualmente, em uma região considerada por eles como menos nobre do bairro. continua

Doktorclub: o início

Este blog tratará tanto de coisas ditas "sérias" quanto de amenidades (a "bebedeira" que aparece na descrição do blog...). Evidentemente, a formação do autor e sua atuação profissional em Geografia acabará puxando um pouco a brasa para essa sardinha, mas este não   é um espaço exclusivo para Geógrafos ou de postagens voltadas unicamente para essa área. Sugestões de Posts e colaborações serão bem vindas, me escreva e conversaremos.